Muito
nos é prazeroso, num encontro de motociclistas, ouvirmos fantásticas
histórias sobre fatos havidos e presenciados durante passeios e viagens
por esse brasilzão, onde são destacadas as paisagens, os recantos, a
receptividade das pessoas, suas culturas diferenciadas, seus hábitos
simples e, até mesmo, a lembrança daquelas comidinhas caseiras e
guloseimas típicas das pequenas cidades ou lugarejos, muito dos quais
ainda desconhecidos e nunca visitados por diversos irmãos motociclistas e
aventureiros.
Porém, tenho presenciado em minhas
viagens, alguns amigos que gostam de marcar suas presenças de uma forma
menos interessante a meu ver, onde, o mais importante para ele não é
reverenciar os fatos acontecidos, as passagens vivenciadas, a
curiosidade dos “causos”, mas sim, promover discussões, com uma certa
competitividade, quando o tema são as diferenças, as vantagens e
desvantagens existentes entre a sua máquina e as máquinas de outros
participantes, ou seja, a soberba tão bem representada quando o assunto é
“Minha moto é... isso, minha moto é... aquilo”.
Geralmente, durante essas
conversas, são citadas as características existentes entre algumas
marcas no que tange as suas potências, conforto, estabilidade, consumo,
acessórios e, até mesmo, os tipos de freios. Até aí tudo bem, pois,
independentemente das marcas, cada um deve escolher aquela que mais lhe
convém, lhe é possível, e com as características específicas para sua
utilização no dia-a-dia ou em viagens ou mesmo pelo custo/benefício.
Contudo, nada é mais chato do que
sair por aí ouvindo alguns motociclistas, proprietários de algumas
marcas e modelos dizendo sempre a mesma coisa, do tipo: “A marca da
minha moto é tradição pura, tem muita história, já participou de
diversos filmes hollywoodianos e era a marca preferida de James Dean,
Paul Newman, Stalone e Peter Fonda, os quais curtiam suas motos até fora
dos sets de gravação”. Empolgado em querer fazer propaganda e
aproveitando a atenção dos demais presentes, insiste em contar mais
vantagens frisando que: “Ela é tão perfeita que cruzei da Costa Leste à
Oeste dos Estados Unidos, pela Rota 66, e não tive nenhum problema,
minha máquina é um espetáculo”.
Sem ter tempo de continuar, ele é
interpelado por outro presente que, num tom quase que de superioridade,
vai logo dizendo: “Mas a minha é pura tecnologia, controle de tração,
freios ABS, aquecedor de punho, para-brisas elétrico, coisas que outras
marcas não possuem”. Esse, para não ficar “por baixo” nos exemplos vai
logo citando que: “ Ela me surpreendeu bastante por sua maciez e
estabilidade, mesmo chovendo bastante, quando atravessei o arenoso
Deserto do Atacama sem apresentar nenhum problema além de ser bastante
econômica”.
Caro leitor, pensando que acabou?
Não! Naquela imaginária roda de amigos apareceu um que era proprietário
de uma esportiva, que vai logo dizendo: “Vocês falam isso porque nunca
andaram numa “racer” ou numa “naked”. Elas, quando levantam a frente
numa arrancada, são pura adrenalina além de possuírem um tremendo torque
nas ultrapassagens que parecem voar baixo e, se fizer o “pêndulo” nas
curvas então, é pura emoção”. Quanta vaidade.
Na verdade, tais propagandas,
fazem parecer um misto de pura demonstração de Poder e de desnecessária
Vaidade. “Poder”, quando o assunto entra pelas raias do valor financeiro
gasto ou pago e, “Vaidade”, quando o objetivo parece querer divulgar a
superação de “obstáculos” com uma autopromoção que , nem sempre,
representa uma grande experiência, mas sim, uma justificativa para as
emoções que o motociclismo nos proporciona.
Na lógica das propagandas, o ideal
seria que tais diferenças e vantagens citadas fossem com o intuito de
auxiliar um novo motociclista no fatídico momento da escolha sobre qual
seria a melhor marca/modelo para suas necessidades, onde, as
características citadas teriam influência na decisão.
Meus amigos, quem não conhece um amigo assim? Onde tudo isso pode nos levar?
Acredito que a lugar nenhum se
entendermos que, no verdadeiro motociclismo, o que prevalece é a
igualdade entre nós mesmo convivendo com nossas diferenças e
possibilidades.
Porém, em conversa com alguns
amigos, estes bem desprovidos dessa competitividade ou dessa vaidade sem
propósito, acabam dizendo sempre que: A melhor moto que existe no Mundo
é aquela que posso ter, seja por questões financeiras ou, até mesmo,
por conveniência e necessidade.
Com tal discussão, longe de querer
acirrar o mito das diferenças ou criticar os amigos proprietários dessa
ou daquela marca, nosso propósito é apenas lembrar aos amigos leitores
que, ao olharmos para frente ou através de nossos retrovisores bem
regulados e de forma que não vejamos apenas “nós mesmos”, haverá sempre
um farol aceso, duas rodas, um tanque, alguém de capacete e que, sobre
aquela moto, estará um condutor igual a você, ao qual devemos reconhecer
como: “UM AMIGO MOTOCICICLISTA”. Lembremos de que, ao pararmos num
sinal, num retorno, num abastecimento, ou noutro lugar qualquer desse
trânsito louco, devemos cumprimentá-lo com, pelo menos, a frase: Bom
dia, Boa tarde! Tudo bem? e, se possível, sem aquela “cara de mau”.
Àqueles que podem desfrutar
merecidamente de máquinas modernas, importadas, de grande cilindrada,
confortáveis e com toda a tecnologia existente no mercado, nossos
fraternos parabéns, porém, jamais deixemos de reconhecer e parabenizar
também aqueles que, com o mesmo espírito do motociclismo, porém de forma
mais modesta utilizam suas simples máquinas para o dia-a-dia, para os
encontros e passeios, ou mesmo, aqueles vivem levando ou trazendo aquele
petisco solicitado, aquele remédio desejado, aquela encomenda esperada e
que podem, também, estar trazendo, aos mais afortunados, aquela revista
especializada onde consta a notícia de que, a sua máquina, tão
elogiada, tão enaltecida e comparada, já não é mais a melhor moto do
mundo, pois, a evolução e a constante “competitividade do mercado
motociclistico” já criou um novo e mais moderno modelo significando, com
isso que, aquela sua máquina já foi “ultrapassada”.
Portanto, o mais significativo não
é que a minha máquina seja isso... ou seja aquilo..., nem a marca, nem o
modelo, nem a cilindrada ou valor, mas sim, que ela possa me levar onde
eu quero ir e onde meus amigos estão, mesmo que para isso eu só consiga
chegar com ela um pouco depois, mas que chegarei-chegarei! E isso não
tenho que duvidar”.
Sobre o autor
Cel Dario Cony
Coronel da Reserva Policia Militar Rio de Janeiro
Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança da Polícia Militar do RJ
Quando Capitão, comandou o Pelotão de Motociclistas do Batalhão de Polícia de Choque.
É Motociclista desde os 21 anos de idade e já
possuiu: Honda CB 125 Japonesa/73, Honda 350/75, Honda 400 Four, Honda
750 Super Sport, Yamaha RD 350/76, Suzuky 750 (três cilindros) Hondas
Shadow, 600 e 750 e hoje tem uma HD Rocker 2009.
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