quinta-feira, 7 de junho de 2012

Soberba: Minha moto é isso.....minha moto é aquilo...


Muito nos é prazeroso, num encontro de motociclistas, ouvirmos fantásticas histórias sobre fatos havidos e presenciados durante passeios e viagens por esse brasilzão, onde são destacadas as paisagens, os recantos, a receptividade das pessoas, suas culturas diferenciadas, seus hábitos simples e, até mesmo, a lembrança daquelas comidinhas caseiras e guloseimas típicas das pequenas cidades ou lugarejos, muito dos quais ainda desconhecidos e nunca visitados por diversos irmãos motociclistas e aventureiros.
Porém, tenho presenciado em minhas viagens, alguns amigos que gostam de marcar suas presenças de uma forma menos interessante a meu ver, onde, o mais importante para ele não é reverenciar os fatos acontecidos, as passagens vivenciadas, a curiosidade dos “causos”, mas sim, promover discussões, com uma certa competitividade, quando o tema são as diferenças, as vantagens e desvantagens existentes entre a sua máquina e as máquinas de outros participantes, ou seja, a soberba tão bem representada quando o assunto é “Minha moto é... isso, minha moto é... aquilo”.
Geralmente, durante essas conversas, são citadas as características existentes entre algumas marcas no que tange as suas potências, conforto, estabilidade, consumo, acessórios e, até mesmo, os tipos de freios. Até aí tudo bem, pois, independentemente das marcas, cada um deve escolher aquela que mais lhe convém, lhe é possível, e com as características específicas para sua utilização no dia-a-dia ou em viagens ou mesmo pelo custo/benefício.
Contudo, nada é mais chato do que sair por aí ouvindo alguns motociclistas, proprietários de algumas marcas e modelos dizendo sempre a mesma coisa, do tipo: “A marca da minha moto é tradição pura, tem muita história, já participou de diversos filmes hollywoodianos e era a marca preferida de James Dean, Paul Newman, Stalone e Peter Fonda, os quais curtiam suas motos até fora dos sets de gravação”. Empolgado em querer fazer propaganda e aproveitando a atenção dos demais presentes, insiste em contar mais vantagens frisando que: “Ela é tão perfeita que cruzei da Costa Leste à Oeste dos Estados Unidos, pela Rota 66, e não tive nenhum problema, minha máquina é um espetáculo”.
Sem ter tempo de continuar, ele é interpelado por outro presente que, num tom quase que de superioridade, vai logo dizendo: “Mas a minha é pura tecnologia, controle de tração, freios ABS, aquecedor de punho, para-brisas elétrico, coisas que outras marcas não possuem”. Esse, para não ficar “por baixo” nos exemplos vai logo citando que: “ Ela me surpreendeu bastante por sua maciez e estabilidade, mesmo chovendo bastante, quando atravessei o arenoso Deserto do Atacama sem apresentar nenhum problema além de ser bastante econômica”.
Caro leitor, pensando que acabou? Não! Naquela imaginária roda de amigos apareceu um que era proprietário de uma esportiva, que vai logo dizendo: “Vocês falam isso porque nunca andaram numa “racer” ou numa “naked”. Elas, quando levantam a frente numa arrancada, são pura adrenalina além de possuírem um tremendo torque nas ultrapassagens que parecem voar baixo e, se fizer o “pêndulo” nas curvas então, é pura emoção”. Quanta vaidade.
Na verdade, tais propagandas, fazem parecer um misto de pura demonstração de Poder e de desnecessária Vaidade. “Poder”, quando o assunto entra pelas raias do valor financeiro gasto ou pago e, “Vaidade”, quando o objetivo parece querer divulgar a superação de “obstáculos” com uma autopromoção que , nem sempre, representa uma grande experiência, mas sim, uma justificativa para as emoções que o motociclismo nos proporciona.
Na lógica das propagandas, o ideal seria que tais diferenças e vantagens citadas fossem com o intuito de auxiliar um novo motociclista no fatídico momento da escolha sobre qual seria a melhor marca/modelo para suas necessidades, onde, as características citadas teriam influência na decisão.
Meus amigos, quem não conhece um amigo assim? Onde tudo isso pode nos levar?
Acredito que a lugar nenhum se entendermos que, no verdadeiro motociclismo, o que prevalece é a igualdade entre nós mesmo convivendo com nossas diferenças e possibilidades.
Porém, em conversa com alguns amigos, estes bem desprovidos dessa competitividade ou dessa vaidade sem propósito, acabam dizendo sempre que: A melhor moto que existe no Mundo é aquela que posso ter, seja por questões financeiras ou, até mesmo, por conveniência e necessidade.
Com tal discussão, longe de querer acirrar o mito das diferenças ou criticar os amigos proprietários dessa ou daquela marca, nosso propósito é apenas lembrar aos amigos leitores que, ao olharmos para frente ou através de nossos retrovisores bem regulados e de forma que não vejamos apenas “nós mesmos”, haverá sempre um farol aceso, duas rodas, um tanque, alguém de capacete e que, sobre aquela moto, estará um condutor igual a você, ao qual devemos reconhecer como: “UM AMIGO MOTOCICICLISTA”. Lembremos de que, ao pararmos num sinal, num retorno, num abastecimento, ou noutro lugar qualquer desse trânsito louco, devemos cumprimentá-lo com, pelo menos, a frase: Bom dia, Boa tarde! Tudo bem? e, se possível, sem aquela “cara de mau”.
Àqueles que podem desfrutar merecidamente de máquinas modernas, importadas, de grande cilindrada, confortáveis e com toda a tecnologia existente no mercado, nossos fraternos parabéns, porém, jamais deixemos de reconhecer e parabenizar também aqueles que, com o mesmo espírito do motociclismo, porém de forma mais modesta utilizam suas simples máquinas para o dia-a-dia, para os encontros e passeios, ou mesmo, aqueles vivem levando ou trazendo aquele petisco solicitado, aquele remédio desejado, aquela encomenda esperada e que podem, também, estar trazendo, aos mais afortunados, aquela revista especializada onde consta a notícia de que, a sua máquina, tão elogiada, tão enaltecida e comparada, já não é mais a melhor moto do mundo, pois, a evolução e a constante “competitividade do mercado motociclistico” já criou um novo e mais moderno modelo significando, com isso que, aquela sua máquina já foi “ultrapassada”.
Portanto, o mais significativo não é que a minha máquina seja isso... ou seja aquilo..., nem a marca, nem o modelo, nem a cilindrada ou valor, mas sim, que ela possa me levar onde eu quero ir e onde meus amigos estão, mesmo que para isso eu só consiga chegar com ela um pouco depois, mas que chegarei-chegarei! E isso não tenho que duvidar”.

Sobre o autor
Cel Dario Cony
Coronel da Reserva Policia Militar Rio de Janeiro
Motociclista Brevetado, com o CFoMES - Curso de Formação de Motociclistas Escoltas e Segurança da Polícia Militar do RJ
Quando Capitão, comandou o Pelotão de Motociclistas do Batalhão de Polícia de Choque.
É Motociclista desde os 21 anos de idade e já possuiu: Honda CB 125 Japonesa/73, Honda 350/75, Honda 400 Four, Honda 750 Super Sport, Yamaha RD 350/76, Suzuky 750 (três cilindros) Hondas Shadow, 600 e 750 e hoje tem uma HD Rocker 2009.

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